1. Panorama Geral

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica, progressiva e frequentemente silenciosa. Muitas pessoas continuam suas atividades por anos sem perceber sinais claros da doença, especialmente nas fases iniciais. Por isso, o diabetes não costuma gerar faltas pontuais frequentes como ocorre em doenças agudas — mas seu impacto acumulativo na saúde e na capacidade laboral é expressivo.

Segundo a International Diabetes Federation (IDF), mais de 10% da população adulta mundial vive com diabetes, e no Brasil a prevalência gira em torno de 9% a 10%. Uma parcela importante desses indivíduos está em idade ativa.

A Organização Mundial da Saúde estima que até 70% dos casos poderiam ser prevenidos.


2. Complicações Crônicas e Impacto Funcional

O diabetes mal controlado favorece lesões progressivas nos vasos sanguíneos e nervos, levando a complicações microvasculares e macrovasculares:

2.1. Microvasculares

  • Retinopatia diabética – Pode evoluir para perda significativa da visão ou cegueira, comprometendo tarefas que dependem de acuidade visual.
  • Nefropatia diabética – Doença renal crônica que pode exigir diálise, afastando o trabalhador definitivamente.
  • Neuropatia periférica – Dor, formigamento, perda de sensibilidade nos pés e mãos, aumentando risco de úlceras e amputações.
  • Neuropatia autonômica – Pode causar hipotensão postural, distúrbios digestivos e disfunção sexual.

2.2. Macrovasculares

  • Doença arterial coronariana – Infarto do miocárdio, principal causa de morte em diabéticos.
  • Acidente vascular cerebral (AVC) – Pode causar sequelas motoras e cognitivas importantes.
  • Doença arterial periférica – Pode levar a isquemia crítica de membros e amputações.


3. Impacto no Trabalho

3.1. Faltas Pontuais

  • Devido ao caráter silencioso do diabetes, crises agudas e internações frequentes não são a regra nas fases iniciais.
  • Isso significa que, no curto prazo, o trabalhador pode manter a assiduidade, mas já apresentar queda de desempenho por fadiga, dificuldade de concentração ou alterações visuais leves.

3.2. Presenteísmo

  • É mais relevante que o absenteísmo nos estágios iniciais: o profissional está presente, mas com desempenho reduzido por sintomas crônicos ou complicações iniciais.
  • Pode durar anos até que complicações mais graves exijam afastamento.

3.3. Afastamentos Prolongados

  • Quando as complicações crônicas se instalam, o afastamento tende a ser definitivo ou de longa duração.
  • O diabetes está entre as principais causas de aposentadoria por invalidez no INSS, principalmente por sequelas cardiovasculares, renais e visuais.


4. Mensagem-chave para Empresas e Profissionais de Saúde

  • O diabetes não costuma “parar” o trabalhador de um dia para o outro, mas mina a capacidade funcional de forma progressiva.

  • O resultado: menos faltas agudas, mas maior risco de perda precoce de capacidade laboral.
  • Isso reforça a importância de rastreamento periódico, controle glicêmico rigoroso e programas de prevenção no ambiente de trabalho.


Impacto das Complicações Crônicas do Diabetes no Trabalho

Retinopatia diabética

  1. Perda gradual da visão, visão borrada ou dificuldade para focar.
  2. Reduz segurança em tarefas que exigem acuidade visual (ler telas, operar máquinas).
  3. Pode evoluir para cegueira parcial ou total → incapacidade para funções visuais críticas.

Nefropatia diabética

  1. Redução da função renal, fadiga, inchaço.
  2. Necessidade de consultas e tratamentos frequentes, menor resistência física.
  3. Evolução para diálise ou transplante → afastamento definitivo.

Neuropatia periférica

  1. Dor, formigamento, perda de sensibilidade nos pés e mãos.
  2. Reduz destreza manual e equilíbrio; aumenta risco de quedas.
  3. Úlceras e amputações podem comprometer mobilidade e trabalho físico.

Neuropatia autonômica

  1. Hipotensão postural, distúrbios digestivos, intolerância ao calor.
  2. Pode causar quedas, mal-estar e fadiga durante a jornada.
  3. Limita atividades que exigem esforço prolongado.

Doença arterial coronariana

  1. Dor no peito, falta de ar, limitação ao esforço.
  2. Reduz tolerância a tarefas físicas e aumenta risco de eventos agudos no trabalho.
  3. Infarto com sequelas pode levar à restrição permanente ou aposentadoria.

Acidente vascular cerebral (AVC)

  1. Déficits motores, de fala e de raciocínio.
  2. Afeta coordenação, comunicação e tomada de decisão.
  3. Sequelas graves frequentemente causam incapacidade permanente.

Doença arterial periférica

  1. Dor e dificuldade para caminhar (claudicação).
  2. Dificulta deslocamentos e atividades que exijam mobilidade.
  3. Isquemia crítica pode levar a amputações e perda funcional severa.

Em Resumo:

O diabetes raramente provoca faltas pontuais, mas compromete de forma silenciosa e progressiva a capacidade de trabalhar, resultando em perdas funcionais muitas vezes irreversíveis.

Por isso, o diagnóstico precoce e a prevenção são fundamentais — estima-se que até 70% dos casos de diabetes tipo 2 possam ser evitados com hábitos saudáveis e acompanhamento por uma equipe de saúde dedicada aos colaboradores.